Sinopse

“A liberdade é uma luta constante” As melhores histórias no Brasil costumam ser mais as vividas que as escritas. As muitas revoluções, rebeliões, revoltas, conjurações, inconfidências não renderam grande literatura, mas, ao menos, uma razoável História. A Confederação do Equador é um desses acontecimentos. O seu bicentenário serve de tema ao dossiê deste mês.

No entanto, um personagem como Frei Caneca já motivou alguns bons textos, como poemas dramáticos e antilíricos de João Cabral de Melo Neto. Além de também um texto teatral de Cláudio Aguiar e um conto de Sidney Rocha, entre outros. O próprio frade escreveu versos, como o seu companheiro de revolução, Natividade Saldanha.

Filho de uma parda e de um padre, Saldanha formou-se em Direito em Coimbra, e certamente teria sido um bom ministro se a Confederação tivesse saído do papel. Ele tinha apenas 34 anos de idade, ao falecer, no exílio; Frei Caneca, ao ser executado, 46. Ambos intelectuais e poetas de gosto ao mesmo tempo neoclássico e romântico. O padre – também professor de geometria – e o versejador lírico e social talvez estejam salvos na História pela Graça e pelas Obras. Mas há outros personagens, como Manuel de Carvalho Paes de Andrade, o principal líder político da Confederação, que precisam ser tirados do esquecimento. Junto a eles podem ser igualmente exaltados os revolucionários Agostinho Bezerra Cavalcante e Souza (1788-1825) e Emiliano Felipe Benício (1791-1863), mais conhecido como Mundrucu, Mundurucu ou Mandurucu). Eram ambos líderes militares, e descendentes de africanos.

A África também está presente na capa, com motivo dos 80 anos de Angela Davis, importante ativista estadunidense. Suas ideias ainda servem de influência e inspiração em vários lugares no mundo. O título de um dos seus livros – A liberdade é uma luta constante – é tão perene, que poderia ter servido de divisa aos revolucionários de 1824 como a qualquer cidadão interessado num mundo melhor nos tempos atuais.